segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Chamamento do Relógio Biológico

Hoje bateu-me uma nostalgia. Não do passado mas dum futuro improvável. Enquanto fui deitar no lixo o saldo deste mês de pensos higiénicos sujos, imaginei-me mãe. Imaginei-me grande, imensa, de blusa azul por cima duma barriga redonda. Imaginei-me de peito farto a prometer leite. Imaginei-me a sair orgulhosa para a rua empurrando um carrinho de bebé, passear pelo bairro, dar uma volta no parque. O sol brilharia, porque o sol brilha sempre nas cenas idílicas de maternidade. E eu feliz! E o meu bebé lindo, o mais lindo de muitos quilómetros ao redor! Seria uma menina. Não, um rapaz! Melhor ainda, um casalinho de gémeos, um menino e uma menina, sorridentes e lindos! O carrinho tinha que ser duplo, sendo assim...
Fechei a tampa do contentor por cima da minha gravidez adiada em forma de pensos ensanguentados e enrolados em pequenas tiras de plástico coloridas. Sorri. Acho que é a isto que chamam o relógio biológico.
Voltei para casa. Enquanto subia a escada em caracol cruzei-me com três vizinhos novos que não conheço: Três rapagões bem alimentados, estudantes, que dividem o apartamento. "São lindos os três" - pensei - "E devem ser inteligentes porque estudam medicina. Caramba, não é qualquer merdas que entra em medicina..."
Ensaiei um bom-dia sonoro e sorridente e obtive resposta entusiasta. Não foi preciso mais. Abri a porta do meu T2 e franqueei-lhes a entrada:
- Quero que vocês me façam um filho, agora!
Eles entraram.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Oriente

Estou super feliz. Era tudo falso alarme e o chocolate e o sorvete não passaram daquelas guloseimas que acabamos por associar a estranhos desejos de gravidez. Anteontem acordei menstruada e acabaram-se-me os temores. Levantei-me um pouco cambaleante fui tomar um valente banho. Aprimorei-me, disfarcei as olheiras que estes dias “difíceis” sempre me provocam, tomei o pequeno-almoço calmamente e saí para fazer compras. Os saldos começaram há pouco e não é que o dinheiro abunde no meu pequeno porta-moedas mas ainda vai dando para algum devaneio. Não fosse o rendimento do meu trabalho com Margot ser quase todo para pagar a dívida da minha mãe (que, coitada, ainda continua internada mais para lá do que para cá) que outro galo cantaria. Nunca pensei em me tornar prostituta mas, os proventos com esta experiência como acompanhante de luxo têm-me dado um pouco a volta à cabeça. No entanto foi esta vida que fez a minha amada Clarisse se afastar da minha e de ter deixado de receber aqueles SMS ternos e insinuantes de Miguel. O Sr. Jerónimo (ah nunca vos disse? A nossa relação tornou-se muito formal, visita-me Chez Margot, é um cliente como qualquer outro, trato-o por senhor e a mulher dele nunca mais nos apareceu. Normalmente temos sexo em hotéis de luxo com direito a champanhe. Continua com os seus devaneios de me regar e lamber o champanhe gelado sobre o meu corpo, de ser louco por sexo anal com alguns laivos sado-masoquistas e fingimos que nunca nos tínhamos conhecido antes), dizia eu o Sr. Jerónimo desapareceu enquanto ex-chefe de escritório, Alex escreveu-me uma carta muito dura que entendi como que um corte de relações e Paulão é assim uma espécie de guarda costas de Margot. Mas ontem, já passada do primeiro impacto do período, telefonei ao Augusto. Surprise! O Augusto vive há dois anos em Tóquio e, pura coincidência, tinha acabado de chegar. Veio de imediato visitar-me e ofereceu-me um luxuoso kimono de seda (provavelmente comprado para outra). Se eu soubesse tocar shamisen e cantar musica tradicional seria a sua gueixa. Rimos muito com estas conversas e Augusto propôs-me antes que eu fosse a sua puta. Rimos de novo. Vesti o kimono, que me assentava lindamente, e deitei-me sobre o seu colo. Enquanto Augusto me acariciava os seios chupei-o como, diz ele, só eu o sei fazer. Veio-se na minha boca e outras lembranças se lhe vieram à memória: Vamos tomar um sorvete? Acabamos rindo à gargalhada.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Melancolia

Hoje estava a olhar a rua pela janela do meu quarto.
Lembrei-me de quando ficava a espiar Clarisse e de quando conheci Miguel.
Antes deles as minhas saídas para dançar à noite, que invariavelmente acabava na cama com alguém que me arrebatava. Sempre me arrebatava. Talvez eu tenha o dom de saber quem é bom nisso, ou simplesmente eu tenha prazer em ter prazer, seja como for.
Mas hoje, justo hoje, bate-me a melancolia.
Talvez porque minhas regras não venham, talvez porque faz uma semana que sequer falo com Clarisse, talvez porque nem falo mais com Paulão, talvez porque a única que me escuta seja Margot, aquela velha nojenta.
Ou talvez, nem sei, porque essa Margot liberou-me das minhas obrigações, quase com ar maternal.
Sinto aquela melancolia de alguém que sente falta de algo, muito mais do que o prazer.
Já comi uma caixa de chocolates e penso em ir a pastelaria comer uns doces.
Pensando nisso, lembrei-me de quando comprei um pote de sorvete de creme. Era Augusto, acho que era ele...
Tão certinho ele...
E eu nua na cama tomando o sorvete... Ele tomou-me das mãos e só olhando-me nos olhos espalhou o sorvete até meu umbigo. E lambeu-me toda, delicadamente.
Mas o umbigo era só uma pequena parada. Sorvete onde é quente é de arrepiar e é... excitante. Principalmente com aquela língua a lamber tudo.
Hummm...
Acho que vou ligar para o Augusto.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Asco e Pena

Fiquei absorta em pensamentos, visualizando o que acabara de acontecer. Clarisse ainda chorava, baixinho, mas em soluço palpitante, como se sua honra tivesse sido levada pela bengala.

Vendo a cena, uma mescla de sentimentos me invadiu, tive asco e pena de Clarisse. E a tal mescla me invadiu como invade uma dor de cabeça branda, que vai te consumindo até levar à loucura, pensando apenas na maldita dor.

Resolvi acolhê-la. E enquanto ela chorava agarrada em mim, sem querer explicações ou se explicar, senti um quê de repulsa: afinal, uma grande frescura chorar por aquilo. Poxa, também acontecera comigo e eu não fiquei daquele jeito. Foi então que entendi a dó que sentia, em meus próprios devaneios, com as lágrimas de Clarisse molhando meu pescoço, que ela não chorava por ter sido, sei lá, estuprada por uma bengala. Mas por ter se submetido àquela situação. Tentei lembrar da primeira vez em que me sujeitei a algo sórdido assim, mas não consegui.

Voltei a mim e enxuguei as lágrimas de minha amiga. Olhei sua íris mel, entrelacei meus dedos em seus cabelos castanhos, cheirei sua orelha, seu pescoço, cheirei perto de sua boca e a beijei. Beijei-a por tanto tempo que minha alma saiu do corpo. De um ósculo tão calmo e arrebatador, que não preocupei em tateá-la sexualmente, e assim também foi Clarisse. Senti suas mãos agonizantes e gélidas de aflição, de choro, virarem brasa, tocando meu rosto, minha nuca, meus cabelos. Foi a primeira vez na vida que senti um tesão tão estranho. Eu estava completamente molhada àquela altura, mas não senti chegar a tal ponto. Acho que foi um dos melhores beijos que tive.

Clarisse parou de me beijar. Fitou-me. Sorriu e passou a mão em minha barriga, subindo dedo após dedo em busca de minhas auréolas, por baixo da camiseta. Alcançou o que queríamos, e ainda, sem deixar de me encarar, começou a massagear meus seios. Então, só após colar seus lábios nos meus em selos e mordiscadas provocantes, sem cessar a massagem erótica, me beijou. E desta vez nos beijamos com força, com volúpia: puxávamos-nos pelos cabelos; minhas mãos passeavam em seus seios, e, de quando em quando, em seu clitóris, por dentro da calça; as mãos dela em meu rosto, seus dedos em minha boca, em meus seios, com o indicador e o polegar esmagando meus mamilos...não estávamos lúcidas, definitivamente não estávamos. Nossa libido nos entorpecera.

Ela perguntou onde estava meu rabbit. Respondi que estava no armário do banheiro, na última gaveta, e enquanto ela foi buscar, tirei a calça e me masturbei. Eu, que já sentia um fulgor desde a bengala do velho imbecil e molhada com o beijo apaixonante dos lábios carnudos de Clarisse, via as partes internas das minhas coxas inundadas de mim mesma. E Clarisse adorava aquilo. Fez que me beijaria, sorriu marotamente e abaixou a cabeça entre minhas pernas, lambendo minhas coxas onde quer que houvesse meu gozo. Passeou com a língua em meus grandes lábios – me penetrou assim – e subiu habilmente com a língua para o clitóris, concomitantemente introduzindo devagar o vibrador em mim. Começou um movimento compassado entre sua língua e as estocadas que me dava. Nessa hora jurei para mim mesma: não fosse o cheiro de homem que me deixa louca, virava lésbica de uma vez por todas!

Sem mais me conter, puxei Clarisse pelo cabelo, nos beijamos e em desespero e exaspero arranquei fora sua calça! Nos encaixamos, fizemos sabonetinho. Seus gemidos pareciam com os de penetrações... Que tesão sentíamos, que tesão! Saí da posição e tomei o rabbit em minhas mãos. Sorri para ela, mas não fui correspondida. Clarisse ficou séria, mas não me importei, nem lembro o que pensei na hora e continue olhando-a, enquanto ela me mirava com um ar de receio. Comecei a esfregar o consolo em seu umbigo e fui descendo, com ela encolhendo sua barriga a cada toque da ponta do rabbit, coisa estranha, pensei, parecia estar aflita. Desci mais um pouco, desci até chegar à entrada de sua vagina. Clarisse arregalou os olhos e eu então empurrei o vibrador de uma vez nela. Recebi um tapa de mão cheia de Clarisse na cara na mesma hora, que se levantou, vestiu o jeans correndo e saiu chorando, batendo porta afora.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Bater no Fundo

Clarisse estava quase a chegar. Fez-se convidada e eu não tive coragem de lhe dizer que não. Para mim, a Clarisse já não é novidade. Mas enfim, com o pretexto de querer apoiar-me neste momento difícil em que a minha mãe se encontra internada devido a um acidente, tive que aceitar a vinda dela.
Já fomos visitar a minha mãe, triste espectáculo! Semi-inconsciente, deitada numa cama de hospital, ligada como uma múmia, nem assim deixa de atirar piropos ordinários a enfermeiros e médicos. Sempre que pode apalpa-os com a única mão que não está partida: a direita. Depois põe a língua para fora rola-a , fazendo-lhes propostas obscenas com um semblante demoníaco. Acho que só agora percebi que sou uma espécie de Rosemary’s Baby. E peço a todas as divindades e seres do inferno que me levem antes de fazer as cenas que a minha mãe faz dia após dia no hospital. Dizem os médicos que corre perigo de vida. Eu duvido. Acho que nem Deus nem o Diabo vão querer ver-se com ela tão cedo.
Chegámos a casa e eu estava arrasada. Passar por isto custa! É difícil constatar o que somos, esgota-nos a alma!
Estava nestes pensamentos quando o telefone tocou. Era Margot, anunciando que vinha a caminho um cliente especial com gostos especiais. Agora? Mesmo agora? – perguntei – Estou estafada, não dá para ser amanhã? Margot riu como quem me explicava que puta não tem escolha. E de seguida tocou a campainha.
Fui abrir. Era um velho com idade para ser, não meu avô, mas sim avô do meu avô, se tal fosse possível. Perguntei a mim mesma o que faria ele ali. Mas não tive muito tempo para esperar pela resposta. Apoiando-se na bengala e arrastando lentamente a perna, ele entrou e anunciou que já tinha pago a Margot e agora vinha servir-se. Nesse mesmo instante entrou Clarisse que, sem saber do que se passava, ficou com um ponto de interrogação na cara a olhar para mim. Fiz-lhe sinal para que não dissesse nada e ela percebeu.
- Tirem as cuecas – ordenou o velho. Eu obedeci de imediato e Clarisse, após uns segundos, imitou-me. Como ambas estávamos de jeans, ficámos na pouco confortável posição de estar vestida apenas da cintura para cima.
- Agora dêem-mas – ordenou o velho escarro – e ponham-se de joelhos em cima do sofá, de costas para mim.
Foi o que fizemos. O velho aproximou a cadeira do sofá onde estávamos e, sem dizer uma palavra, enterrou a bengala imunda no meu rabo. Eu gritei com a dor do atrito e ele enterrou mais ainda, enquanto dava gargalhadas fininhas de bruxa. A seguir, tirou a bengala dum só golpe e enfiou-a no rabo de Clarisse, que também gritou. Ele ordenou que nos beijássemos com língua e foi alternando a bengala, ora no meu rabo, ora no de Clarisse, enquanto cheirava e lambia as nossas cuecas sujas. Ao mesmo tempo, gemia como um pequeno gremlin nojento.
Talvez meia hora depois deu-se por satisfeito e mandou-nos vestir como se de repente tivesse ficado com nojo de nós. Ajeitou-se e saiu, sempre apoiando-se na bengala de madeira. Clarisse chorava baixinho sentada no sofá, enquanto jurava que nunca mais queria nada comigo nem com as minhas confusões. Eu, estranhamente, apesar de dorida e humilhada, sentia-me excitada e não parava de pensar naquela bengala velha, dura e encardida.
Ao sair, ainda ouvimos o velho dizer qualquer coisa como:
- Margot é aquela amiga! Prometeu uma mas arranjou duas! É aquela amiga!