Acordei com o som seco do chuto numa bola a menos de dois metros. Era uma criança que brincava com o pai. Virei-me para o lado ainda confusa e Ari olhava-me. Afinal, o suor que me deixava o corpo molhado e colado na areia era resultado do sol ardente que me queimava a pele e não das aventuras que sonhara ter com aquele homem bom como o milho… e com a irmã dele.
- Meus Deus – pensei – Estou a tornar-me louca nesta terra, deve ser do calor…
Nesse momento, tive a certeza que os meus pensamentos saíam em voz alta. Pelo menos foi o que me pareceu ver no sorriso lindo de Ari, e quase fiquei envergonhada com isso:
- Eu disse alguma coisa enquanto dormia? – perguntei.
- Como assim? Não falou nada, não!
Fiquei mais sossegada. Mas o sonho continuava a girar em looping na minha cabeça, recusando-se a sair.
E assim continuou até à noite, quando fomos jantar numa esplanada ao ar livre com vista para o mar. Para não o convidar de forma directa, comecei a inventar uma conversa desajeitada:
- Sabes que nunca tinha visto o sol nascer na praia?
Ele riu:
- Sério?
- É. Para mim, praia era só para o sol ir dormir, não para acordar.
- Verdade… nunca tinha pensado nisso.
Parámos de falar e, durante alguns segundos, só nos olhámos. Eu pensava com muita força – “É agora! É agora!” – e foi nessa altura que senti uma mão nos meus joelhos e vi, à minha frente, o sorriso que os homens fazem, em qualquer parte do mundo, quando querem sexo. Eu retribuí com o sorriso que as mulheres fazem, em qualquer parte do mundo, quando acham boa ideia. Pedimos a conta, com muita pressa se faz favor, que temos mais que fazer, e corremos para a praia agora deserta. Apenas com as estrelas por testemunhas, desapertei-lhe os botões das calças. Era verdade, ele não usava cuecas. As imagens do sonho que me obcecava continuavam ainda no meu cérebro. Acho que nunca na vida tinha tido tanta vontade de fazer sexo oral a um homem. Era só isso que eu queria e foi apenas isso que fizemos. Saboreei-o na totalidade. Com a língua, com os lábios, levemente com os dentes, com o céu da boca, com a garganta. Ouvi os seus suspiros que me pareceram música e segurei-lhe os quadris. Era só isso que eu queria e foi apenas isso que fizemos. Quando por fim ele se derramou em mim, levantei-me, ajeitei o vestido. Estava saciada. Ou talvez ainda não. Olhei-o nos olhos e perguntei:
- Tens uma irmã, não tens?
"AQUILO QUE AMOR DIZ" de Regina Guimarães
-
São longas frases
em língua de escuta
onde o vento da boca
nunca se aventura.
Dão guarida ao que escapou
às leis da criação sempre segunda:
o sexo implíci...
Há 5 anos