sábado, 13 de junho de 2009

A Maior Surpresa

Como não podia deixar de ser, porque todas as mulheres o fazem, fáceis ou difíceis, fingi estar desinteressada numa primeira abordagem:
- Sim... E então?...
- Vou aí a casa.
E desligou.
"Só me faltava esta" - pensei - "Um tipo que acha que não tem que se dar ao trabalho de me convencer!"
Na verdade, nas circunstâncias em que me conheceu, haveria espaço para achar que tinha?

Mas este período de reflexão durou pouco. Logo de seguida, feita louca, levantei-me do sofá e fui tomar banho, veloz como um raio. Queria estar impecável para Paulão. Não tenho remédio.
Usei o meu sabonete especial, cheiroso de chocolate, e a minha loção que deixa a pele macia. Decidi depilar as virilhas e talvez um pouco mais, há alguns dias que não o fazia. E em boa verdade, só nos filmes e nos romances é que as mulheres estão sempre prontas para um momento de intimidade, não na vida real. Estar em condições para um close-up é como estar pronta para ir à praia. Requer muito trabalho, tempo e estudo da situação.
Estava nestes pensamentos quando senti uma dor lancinante que me interrompeu o fio do raciocínio e me trespassou as entranhas. Olhei para baixo e vi um fio de sangue que descia pelas minhas pernas e seguia como um pequeno riacho para o ralo da banheira. Azar dos azares! Tinha-me cortado! E logo naquela parte que tinha que estar fresca e bela e sorridente. Merda! Esqueci-me que tinha posto uma lâmina nova no dia anterior e não tive aquele cuidado que se deve ter com uma lâmina nova. Merda!
Saí da banheira com uma toalha entre as pernas e fui fazer o curativo, com Betadine e um penso higiénico. Senti-me a mulherzinha mais estúpida do mundo! Estava de pernas abertas sentada na cama e olhei para o espelho em frente, no toucador. Bonita figura Janette!
Ainda tinha o cabelo molhado quando alguém tocou a campainha. Merda mais uma vez! Era Paulão! Aquele homem que eu queria com mais fervor do que um incêndio de grandes proporções quer um helicóptero da protecção civil estava ali, a alguns metros de distância, e eu de penso higiénico e com a dita pintada de castanho acobreado! A campainha tocou mais uma vez. Eu vacilei. Abro? Não abro? E se não abrir? Perco para sempre a hipótese de repetir a dose de Pau... do Paulão? Não!!! É mau demais!
Decidi-me. Tirei o roupão e fiquei só de cuecas, que embora pouco sexy devido à situação, não estragavam o retrato na globalidade. O cabelo molhado até me conferia um aspecto sensual de postal ilustrado, porque não? Ia abrir a porta sim, e iria induzir Paulão para todo o tipo de sexo menos o vaginal. Afinal de contas há tantas hipóteses interessantes!... Sorri ao imaginar duas ou três cenas possíveis. A campainha tocou de novo. Eu corri para a porta e abri, sorridente, quase nua.
Numa fracção de segundo, gelei. Fiquei imóvel, segurando a maçaneta da porta. Do outro lado estava Paulão sim, mas acompanhado... pela minha mãe... tão imóvel e assustada quanto eu.

4 comentários:

  1. Juro que pensei que sua mãe tivesse morrido! Ou seria alucinação de quem tem um corte logo... ali! :))))
    Ou será que vou ter que reler tudo de novo? :))
    Ai, Janette! Terrível, você!

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  2. Oh Janette! isto hoje parece uma peça de Vaudeville mulher!

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  3. Bom, não bastava à mãe de Janette levar tudo a eito lá em Angola, como agora ter-se apoderado de Paulão. Ganda maluca!

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  4. Há dias difíceis e em que tudo corre mal.
    Janette e agora???

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